Este início de ano não vem se mostrando tão simples para os investidores. Até agora, alguns pontos de atenção surgiram de diferentes frentes, como a política, a econômica, a sanitária – esta, principalmente, em nosso caso –, entre outras.

Conforme exposto no balanço trimestral realizado pela Equipe Levante Advice, no dia 8 de janeiro, o Ibovespa bateu seu recorde histórico. O Índice fechou em 125.077 pontos, em meio à euforia que, à época, tomava conta do mercado e dos investidores.

Porém, com o passar do tempo, o jogo mudou um pouco. No último dia do trimestre, o Ibovespa fechou com uma queda acumulada no período de 2%, a 116.634 pontos.

Houve também outros fatores, como a troca global de carteira (de ações de crescimento por ações de valor), beneficiando, assim, empresas ligadas a commodities e de setores mais cíclicos e prejudicando aquelas ligas à tecnologia, principalmente.

Como expomos em nosso balanço, por conta da recente alta da taxa de juros americana de 10 anos, que saiu do patamar de 1.0 para 1.6, decorrente da perspectiva de recuperação econômica por lá, grandes gestores de Fundos de Investimento tiveram preferência por preferência por ações de setores mais cíclicos (bancos e energia, por exemplo) para se beneficiar da retomada da economia. E as empresas desse setor são, basicamente, empresas de valor.

Além disso, a alta da Selic também fez peso em alguns setores de mercado, como o de construção civil, o de bancos e o de seguradoras.

E, é claro, temos a questão da vacinação, que foi “do céu ao inferno” neste início de ano, também está trazendo incertezas para o nosso cenário e a nossa Bolsa. Nessa linha, Rogério Xavier, da SPX, e Luis Stuhlberger, da Verde, dois dos maiores gestores do nosso País, diminuíram parte de suas exposições ao mercado local e aproveitaram a boa onda de investimentos globais. E ambos conseguiram rentabilidades positivas no mês – o SPX Nimitz, inclusive, com um bom ganho em seu book de juros.

Assim, o que esses exemplos nos mostram é que, mesmo em momentos conturbados, bons gestores e bons Fundos conseguem sair ganhando, achando a “janela” de rentabilidade e o investimento certo para cada caso.

Há, também, casos externos, em que o principal ativo do Fundo acabou puxando a sua rentabilidade, em um movimento de alta bem grande no período.

Vamos aos Fundos!

Fundos com melhores rentabilidades em março

A seguir, segue o levantamento dos Fundos com melhores retornos em março.

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Obs: Foram considerados fundos com PL médio dos últimos 3 meses maior do que R$ 50 milhões, mais de 1 ano de atividade e mais de 50 cotistas. Fonte: ComDinheiro, data-base 31/03/2021, extraída em 10/04/2021.

De início, percebe-se que, no mês de março, os Fundos que se destacaram pertencem majoritariamente à Classe de Ações, totalizando 8 dos 10 Fundos. Os outros 2 são Multimercados, mais especificamente pertencentes à estratégia de Investimentos no Exterior.

Esse fato é significativo. Como expusemos em nosso balanço dos Fundos no trimestre (em relação à entrada de recursos e afins), em março, os Fundos de Ações e os Multimercados foram os que apresentaram os melhores resultados, com captação, respectivamente, de R$ 6 bilhões e R$ 5 bilhões, depois dos de Renda Fixa e dos FIDCs.

Ademais, quando olhamos aos resultados dos últimos 12 meses – que, vale ressaltar, pega a trajetória de aportes e saídas durante quase toda a crise do coronavírus –, os Fundos Multimercados lideram. No período, acumulam uma Captação de impressionantes R$ 101 bilhões.

Voltando ao mês de março, os próprios tipos mais observados na tabela acima (Ações Livre e Multimercados Investimento no Exterior) despontaram em suas Classes. Os Fundos de Ações Livre despontaram, com entrada de recursos no total de R$ 3,6 bilhões, enquanto, no caso dos Multimercados, os Multimercados Livre e os Multimercados Investimento no Exterior foram os destaques, com, respectivamente, captação de R$ 3,8 bi. e R$ 3 bi.

Esses dados são importantes, pois, apesar de não justificarem as rentabilidades dos Fundos da tabela, entram em uma tendência de investimento e popularidade mais ampla.

Foco nos ativos

Os dois Fundos com melhores retornos no mês de março é composto por, em primeiro lugar, um Fundo de Ações e, no subsequente, um Multimercado (Investimento no Exterior).

No caso do HAYP FIA, que acumulou 34,5% de rentabilidade no mês (um valor bastante expressivo), o seu resultado foi puxado, principalmente, por três ações em específico Pão de Açúcar (PCAR3), Assaí (ASAI3) e Positivo (POSI3).

É interessante observar o caso de PCAR3, que, do dia 1º de março a 31, obteve um retorno de expressivos 42,22%, por conta da queda abrupta que sofreu devido ao spin-off realizado com o Assaí (uma questão técnica e esperada).

Continuando, o Fundo tem um viés mais “agressivo” de investimento, com foco grande em ações (de suas 10 principais posições, 9 são ações). O Fundo pode, inclusive, chegar a 100% de investimento nesse tipo de ativo.

O retorno anual do Fundo vem se apresentando, também, como positivo (no primeiro tri., ele foi de 21,6%). É importante, ao lado desses fatores, e de acordo com a Metodologia Levante Advice de Análise de Fundos, observar também o prazo de resgate, o Sharpe e a volatilidade. Porém, antes de falarmos sobre isso, vale dar uma olhada no primeiro e no segundo colocados.

Os únicos Multimercados da lista dos Fundos com melhores retornos em março são, basicamente, Fundos de Criptomoedas. Dentre eles, o que se destacou, tanto no mês quanto no trimestre, foi o Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index, que teve um retorno mensal de 25,59%. No trimestre, o retorno é de impressionantes 122,29%. O motivo para tamanho retorno? Bom...

O Fundo tem 100% dos recursos alocados em criptoativos, replicando a cesta de ativos do NCI, que, por sua vez, tem a seguinte composição em sua carteira: Bitcoin (BTC), com 78.61%; Ethereum (ETH), com        16.86%; Litecoin (LTC), com 1.58%; Bitcoin Cash (BCH), com 1.03%; Chainlink (LINK), com 1.27%; e Stellar Lumens (XLM), com 0.65%.

Para não estender muito este tópico, peguemos apenas o Bitcoin, a cripto mais famosa e conhecida no mundo todo. Ontem, a “moeda” bateu seu recorde histórico, atingindo o valor de US$ 62 mil. No trimestre, ela obteve uma valorização de 111%.

Apenas esse panorama pode dar uma ideia dos motivos para um desempenho tão grande do Fundo – principalmente no trimestre. Porém, como dissemos acima, olhar o retorno, e só, não basta.

A volatilidade do Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index em 2021 é 102,76, enquanto a do primeiro colocado é de 37,44% por mês, quase três vezes menor. Isso nos indica, por exemplo, o quanto os preços e as tendências das criptomoedas pode variar, subindo e descendo abruptamente.

Já quando olhamos o Sharpe mensal, o Fundo de Ações tem um Sharpe de 2,36, enquanto o Hashdex, de 1,38, também menor. Isso muda no dado anual, muito por conta do retorno inegavelmente expressivo entregado pelo Fundo de Cripto.

Mesmo assim, não podemos ignorar esses outros indicadores. A volatilidade desse tipo de ativo, por exemplo, tem uma boa importância para uma análise consistente dele. E, é claro, os objetivos ao investir, o prazo de retorno esperado, a tolerância ao risco, todos esses fatores importam. O prazo de resgate, também.

Continuando, dos Fundos da lista, 6 vêm apresentando uma tendência de crescimento no ano. Os outros quatro, que estão negativos no ano (em rentabilidade e no Índice Sharpe), recuperaram parte do que foi “perdido” até agora.

O Versa Long Biased, por exemplo, teve ganhos de 13,93% em março, diante de um cenário de perdas de -37,76% no ano. Porém, olhando um período mais amplo, o Fundo apresenta, desde seu início, um retorno de 1106.1%; ou seja: o foco no longo prazo expõe a consistência dos retornos do Fundo.

Duas análises

Aqui, vamos dar uma olhada em dois Fundos “distintos” da tabela, mas que foram avaliados pela Levante Advice.

O Hashdex Criptoativos Voyager possui 3 estrelas, de 5, na Metodologia Quantitativa da Levante Advice. Para a obtenção da nota, o Fundo foi avaliado em 3 pilares: “Risco”, com nota 1; “Retorno”, com nota 5; e “Liquidez”, com 2. Diante do cenário atual, de popularização do Bitcoin e surgimento de diversas outras criptomoedas, o Fundo vem se obtendo bons retornos.

O Versa Long Biased, por sua vez, possui 4 estrelas, de 5, na Avaliação Completa da Advice, que considera as metodologias Qualitativa e Quantitativa. Para a obtenção da nota, o Fundo foi avaliado em 5 pilares: “Risco e Retorno”, com 5; “Liquidez”, com 4; “Pessoas”, com 4; “Processos”, com 3; e “Empresa”, com 3. Apesar de estar com rentabilidade negativa no ano, o Fundo já vem apresentando uma tendência e um posicionamento de recuperação, principalmente pelos ativos em que investe e pelo seu foco em longo prazo.

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