Enquanto alguns países do mundo estão em estágios avançados no processo de retomada econômica, as incertezas políticas e um processo de vacinação mais lento seguem atrasando, em partes, o Brasil.

Nos Estados Unidos, por exemplo, pessoas totalmente vacinadas– não precisam mais utilizar máscaras. Para nós, esse cenário parece muito distante.

Além disso, a CPI da Covid, que tem atraído muito a atenção do noticiário, segue gerando incerteza e ruídos para o mercado, o que vem travando o avanço de alguns ativos.

Por outro lado, diversas ações – e Fundos – têm alcançado retornos expressivos neste ano, do mesmo modo que empresas apresentaram, na última temporada (1T21), resultados bem melhores que o esperado.

Porém, atualmente, um fator não é dependente do outro. Ou seja: muitas das empresas que apresentaram ótimos resultados não estão dentre as que vem obtendo um bom retorno.

Por quê?

É aí que a influência do pano de fundo macroeconômico como definidor de certas tendências – um exemplo delas: a alta das commodities (por conta da recuperação econômica chinesa, que requer uma utilização forte de minério de ferro e afins).

Tendo em vista a importância do cenário, as opiniões de grandes gestores de Fundos de Investimento se tornam ainda mais relevantes.

Na carta do Fundo Verde, que tem como destaque o gestor Luis Stuhlberger, por exemplo, há o destaque de que o Brasil está sendo “impulsionado” por mercados internacionais e pelo panorama macro.

Sem dúvidas, o alto preço das commodities, a vacinação avançada em alguns países, a alta liquidez global e a retomada de alguns mercados são uns dos fatores que têm puxado o nosso mercado.

Por outro lado, o Fundo aponta que temos também diversos entraves internos, que levam a um aumento da inflação e, consequentemente, dos juros.

“Navegar os mercados locais vem sendo uma odisseia extremamente complexa e nada indica que vai melhorar”, diz o Fundo.

O Fundo Verde (FIC FIM) alcançou, em abril, uma rentabilidade de 1,20% em abril. No ano, essa rentabilidade é de 3,14%.

A inflação e os diferentes efeitos no tempo 

No último mês, um fator que começou a preocupar alguns gestores e investidores foi a inflação. Nessa linha, na Carta de abril da SPX, que conta com Rogério Xavier no comando, a gestora fez questão de mencionar os riscos que a alta inflação pode trazer no futuro e mostra uma visão pessimista sobre assunto.

Segundo ele, “os bancos centrais e governos dos países desenvolvidos estão, no atual momento, fazendo um grande experimento monetário”.

O Federal Reserve está tentado gerar uma elevação temporária da inflação para que, dessa forma, convença os agentes econômicos de que políticas inflacionárias funcionam.

O Fundo explica que o principal objetivo de política econômica hoje é inflacionar.

Os norte-americanos estão traumatizados com as lembranças da crise financeira de 2008, do risco de cair na armadilha de liquidez, da deflação e dos desafios na condução de uma política monetária próxima ao limite inferior da taxa de juros nominal.

A gestora, por outro lado, tem uma visão otimista a curto prazo para o cenário macroeconômico da economia global.

Além dos fortes estímulos monetários e fiscais, o otimismo com a vacinação nos EUA e em outros países desenvolvidos contribuem para um cenário otimista a curto prazo.

A SPX, porém, explica que para compreender os riscos da inflação é preciso saber que apenas em um primeiro momento o efeito é positivo, com queda de juros reais e um grande estímulo à atividade econômica.

Os efeitos negativos só aparecem mais à frente, quando os bancos centrais tiverem de acabar com a festa, ou quando os mercados, sempre de forma inesperada, não corroborarem as expectativas embutidas nos planos de ação das autoridades monetárias.

O gestor complementa dizendo que a inflação deve permanecer acima do teto da meta por algum tempo.

Por fim, o SPX ressalta que, em economia, não há experimento controlado, como em um laboratório, e ressalta que é preciso ir “um curto prazo de cada vez”.

As commodities

Citamos as commodities acima como um dos setores que mais têm se beneficiado pelo contexto macro global.

Os motivos para isso são vários. Troca de carteira global de empresas Growth por empresas Value (a maior parte das mineradoras e siderúrgicas, por exemplo, são Value); retomada econômica chinesa, com foco em infraestrutura, demandando minério de ferro; o dólar em alta (a Vale, por exemplo, é uma exportadora, beneficiando-se disso); a alta liquidez global; como se vê, os fatores são diversos.

O gestor da RPS Capital, Paolo Di Sora, por exemplo, diz que mantém uma posição de “net comprada” com exposição a setores que se beneficiam da recuperação global da economia.

Seguindo na mesma linha da RPS Capital, o Fundo Alaska, que conta com Henrique Bredda na gestão, também destaca a valorização das commodities, especialmente dos grãos.

Nessa linha, a SPX relaciona que a combinação de condições monetárias estimulativas, uma demanda agregada global sustentada e maiores gastos em infraestrutura e investimento para transformar a matriz energética dos países mais ricos beneficiam os países emergentes por meio de elevados preços das commodities e fluxos financeiros.

Como fica o Brasil nesse contexto todo?

Quando o assunto é Brasil, assim como o Fundo Verde, o gestor da SPX também acredita que o país poderia ser beneficiado nesse momento em que está sendo “alavancado” pelos mercados internacionais, mas questões do cenário doméstico impedem que isso aconteça de fato.

O Brasil é um exemplo de país que poderia ser beneficiado nesse cenário. No curto prazo, as perspectivas de crescimento econômico estão melhorando, ajudadas por um nível muito elevado dos termos de troca, e pelos efeitos defasados do agressivo estímulo monetário e fiscal como resposta à pandemia”, diz o Fundo.

O gestor do Fundo Alaska comenta que apesar dos “bons ventos” vindos do exterior, a indefinição do Orçamento 2021 e a preocupação de “furar” o teto de gastos afetaram os mercados.

O Fundo Alaska ainda cita a CPI da Covid e as trocas na equipe do Ministério da Economia como causadores de ruídos nos preços dos ativos no mês.

Por fim, o Fundo SPX diz que o maior desafio para o Brasil se beneficiar dessa conjuntura externa é o fiscal.

Sem os ajustes necessários, segundo eles, na melhor hipótese há um equilíbrio macroeconômico com inflação mais elevada, pois na ausência de uma política fiscal crível, será o nível de preços que irá equilibrar o orçamento intertemporal do governo.

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