Os juros fecharam em alta nesta sexta-feira, 20, junto com a piora do dólar, batendo máximas à tarde quando a moeda voltou a se aproximar dos R$ 5,40. Os vértices intermediários e longos foram destaque e a curva ganhou inclinação não somente em relação a ontem como também no balanço da semana. A leitura negativa das declarações do ministro Paulo Guedes, ontem à noite, sobre a possibilidade de usar reservas para abater dívida e de que vai retomar a discussão sobre aumento de impostos depois das eleições, continuou pesando nos negócios na etapa vespertina, num contexto de piora na credibilidade do governo quanto às ações para resolver a questão das contas públicas. As taxas longas, mais sensíveis ao risco fiscal, encerraram no maior patamar desde o período entre abril e maio.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular e a estendida em 3,36%, de 3,295% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,986% para 5,12% (regular) e 5,11% (estendida). O DI para janeiro de 2025 fechou a regular com taxa de 6,95% e a estendida em 6,96%, de (6,805% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,604% para 7,74% (regular) e 7,76% (estendida).
A abertura do mercado até que foi "tranquila", com juros acompanhando a reação inicial do dólar em queda à fala de Guedes sobre o uso das reservas, mas depois ambos entraram em trajetória ascendente, com os analistas fazendo diversas leituras negativas das declarações. Uma delas é que, diante da dificuldade em resolver a questão fiscal com instrumentos tradicionais, como reformas e corte de gastos, o governo estaria apelando para ferramentas heterodoxas. "Esta não pode ser uma estratégia visando à redução da dívida, cuja trajetória precisa ser revertida por uma mudança da própria dinâmica fiscal", afirmou o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, para quem a venda do estoque das reservas traria apenas alívio temporário.
A declaração também foi vista como mais uma intervenção verbal para encobrir a falta de medidas concretas, uma vez que as matérias, mesmo as menos complicadas que as reformas, não avançam no Congresso. "É o tipo de coisa que não se avisa antes, vai lá e faz. Isso acaba minando a confiança do mercado", disse o estrategista-chefe do CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.
Sobre a retomada da discussão de aumento de imposto pós-eleições colocada pelo ministro, Caramaschi vê um desgaste desnecessário, dada a conhecida resistência do Congresso. "Retomar esse assunto é extemporâneo. Tem de se concentrar no que já está lá. Isso sim ajudaria a desfazer o mal-estar", disse. A semana termina sem a discussão na Câmara dos projetos que estão parados na Casa, como o de autonomia do Banco Central aprovado no Senado e da navegação de cabotagem, como havia prometido o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR) na semana passada.
Por Denise Abarca