O Fundo Verde, do renomado gestor Luis Stuhlberger, teve desempenho negativo em julho de 2021, de -2,16%, ante +0,36% do CDI. No ano, o Fundo acumula +1,28%, contra +1,63% do seu benchmark. Conforme divulgado na Carta de Julho do Verde, o Fundo teve ganhos em posições de crédito, porém foi impactado negativamente pelas suas posições tomadas em juros e na Bolsa brasileira.
O contexto atual não se mostra dos mais fáceis para a nossa Bolsa, ao menos no curto prazo. O avanço da vacinação, os bons resultados das empresas, a reabertura econômica, as estimativas positivas para o nosso PIB; nenhum desses fatores, na prática, conseguiu pesar positivamente em nosso mercado no mês de julho. Os motivos? Para além do cenário externo, que segue conturbado diante de incertezas quanto à retomada econômica na China e à política intervencionista que o governo tem adotado por lá, além, é claro, de dúvidas em relação à política monetária dos EUA, temos o cenário político brasileiro, que voltou a fazer peso em nossa Bolsa no início do mês passado.
Como pontuou o Fundo Verde em sua Carta: "Essa cadeia [de fatores positivos para o nosso mercado] tem sido rompida pela postura errática do governo em relação à política fiscal do Brasil no médio prazo; e também pela política monetária substancialmente mais hawkish que o Banco Central tem implementado."
Essa postura errática pode ser vista como uma aproximação àquilo que o Fundo chama de “acelerador fiscal com freio monetário”, mesma postura vista durante os anos 2012 a 2015 e que foi rompida posteriormente, quebrando o ciclo de "política fiscal extremamente frouxa e política monetária dura" que vinha se desenhando e implementando reformas e mudanças importantes. De acordo com o Verde, a partir de 2017, "[...] com a implementação do teto dos gastos e da reforma da previdência, apareceu o espaço para inverter a lógica macro do país, que poderia passar a funcionar sob a égide de um 'freio fiscal com acelerador monetário'. A queda das taxas de juros foi revolucionária em termos de crescimento do mercado de capitais e viabilizou uma série de iniciativas [...] cujos frutos o país vai colher durante muito tempo."
A pandemia, porém, acabou com essa lógica. Por conta de toda a situação delicada que brotou dela, com necessidade de injeção de recursos por parte do governo em nossa economia, entre outras práticas que iam na direção oposta para a qual estávamos caminhando, passamos "alguns trimestres vivendo sob dois aceleradores, fiscal e monetário, simultâneos", e, no primeiro trimestre deste ano, tivemos "mais gastos fiscais, enquanto a autoridade monetária se via às voltas com vários desafios de calibragem da taxa de juros, dada uma série de choques de oferta que tem afetado o país e o mundo [...]."
Agora, portanto, como afirma o Fundo, "à medida que caminhamos para uma reabertura econômica mais ampla, o país parece flertar perigosamente com o passado." O risco de o acelerador fiscal voltar a ser o nosso principal mecanismo macroeconômico, digamos assim, vem sendo sentido por boa parte dos investidores. A quebra do teto de gastos estabelecido, por exemplo, para fins de aumentar o Bolsa Família e estender o Auxílio Emergencial, "com vistas a operações de cunho eleitoral", é, atualmente, um dos principais pontos de incerteza. Esse mecanismo de "acelerador fiscal", necessariamente, se continuar, pedirá um freio monetário, "o que tende a dificultar a performance dos ativos de risco brasileiro e reverter, ou prejudicar, o processo de aprofundamento e sofisticação do mercado de investimentos no Brasil", como diz o Fundo.
É esse, portanto, o contexto em que nos encontramos atualmente - e que, também, pesou para as perdas do Fundo no mês. O Verde, porém, "não está posicionado para esse cenário de 'volta ao passado'". Entretanto, mesmo assim, os riscos embutidos nessa incerteza que ronda o nosso mercado vem travando o avanço da nossa Bolsa.