O dólar voltou a subir nesta quarta-feira, 2, com o real acompanhando de perto o desempenho de outras moedas de países emergentes, como o peso mexicano e o rand da África do Sul. Com o noticiário doméstico mais esvaziado nesta quarta-feira, o câmbio foi influenciado pelo exterior, onde o dia foi de ajustes, após os ganhos fortes ontem das Bolsas e do dólar ter caído aos menores valores no mercado internacional em dois anos e meio. Após acumular perda de 8,5% nos últimos 30 dias, ajudado pelo forte fluxo de recursos externo ao Brasil, o dólar à vista hoje fechou em alta de 0,27%, aos R$ 5,2418. O dólar futuro para janeiro subiu 0,21%, a R$ 5,2195.
O Brasil recebeu US$ 5,985 bilhões pelo canal financeiro em novembro, até o dia 27, mostram dados do Banco Central divulgados hoje e as entradas devem prosseguir. Nesta quarta, o Tesouro captou US$ 2,5 bilhões no exterior e fontes ouvidas pelo Broadcast dizem que a demanda pelos papéis chegou a US$ 8,5 bilhões.
A consultoria inglesa Capital Economics acredita que o fluxo para emergentes deve seguir forte em dezembro, com alguns países começando o processo de vacinação contra o coronavírus já nos próximos dias, o que deve realimentar o apetite por risco, em um ambiente que tem sido marcado por queda dos rendimentos dos Treasuries americanos. Hoje o Reino Unido foi o primeiro país do mundo a autorizar o medicamento da Pfizer com a BioNTech. Apesar da expectativa de fluxo, a Capital Economics não espera que o real tenha valorização expressiva pela frente e segue prevendo o dólar acima de R$ 5,00 em 2021, por conta do risco fiscal. "No Brasil, o aumento na dívida este ano ajudou a exacerbar preocupações sobre a sustentabilidade fiscal, assim como na África do Sul", avalia o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria, William Jackson.
Na mínima desta quarta, o dólar caiu a R$ 5,20, em meio à mais entrada de fluxo externo, mas profissionais das mesas de câmbio não veem o dólar rompendo este o patamar, de forma consistente, sem notícias fiscais positivas. No pregão de hoje, sem novidades na área, o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, comenta que o real seguiu os pares emergentes e ainda houve um pouco de realização de ganhos. "O mercado lá fora ficou mais ressabiado hoje", diz ele.
Se ontem havia otimismo com a aprovação de um pacote de auxílio fiscal pelo Congresso americano, hoje há dúvidas se pode haver mesmo um acordo bipartidário no curto prazo. "Alertamos para o risco de muito otimismo sobre este tema", afirmam os estrategistas de moedas do banco americano Brown Brothers Harriman (BBH). No final da tarde, os partidos dizem que seguem negociando. Para o Brasil, o BBH destaca que declarações recentes de Jair Bolsonaro de não pretender prorrogar o auxílio emergencial ainda ecoam positivamente, mas lembram que, no ano, o dólar ainda sobe 30% ante o real.
Por Altamiro Silva Junior