O dólar operou volátil no último pregão de novembro, mas ainda fechou o mês acumulando queda de 6,83%, o maior recuo mensal em dois anos, desde outubro de 2018, quando a divisa dos Estados Unidos caiu 8%. Com isso, o real foi a moeda de emergente que mais ganhou força ante o dólar este mês, mas ainda segue com alta de 33% no acumulado do ano, o pior desempenho.
No fechamento, o dólar terminou no mercado à vista em alta de 0,39%, cotado em R$ 5,3462. No mercado futuro, o dólar para janeiro, que passou hoje a ser o contrato mais líquido, fechou em queda de 0,22%, em R$ 5,3340.
Na movimentação técnica, grandes investidores vêm reduzindo apostas contra o real na B3 e em Chicago. Mais do que relação com fundamentos domésticos, profissionais das mesas de câmbio contam que este movimento reflete a tendência de enfraquecimento do dólar no exterior, em meio a notícias positivas sobre vacinas contra o coronavírus e a perspectiva de dólar fraco em um governo de Joe Biden, que vai elevar gastos fiscais.
Se as dúvidas sobre a imunização contra a covid e as eleições americanas se reduziram, o mesmo não aconteceu com a situação fiscal do Brasil, que permanece muito incerta, destaca o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Assim, a questão fiscal segue como limitador para uma valorização mais forte do real, destaca ele. A dúvida é se haverá alguma avanço agora após o segundo turno das eleições.
Nesta tarde, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que não haverá prorrogação do estado de calamidade e da PEC da guerra, o que trouxe algum alívio nas mesas de câmbio. Mas ao mesmo tempo disse ter ficado assustado pelo governo não mostrar quais as prioridades na pauta. A consultoria americana de risco político Eurasia prevê que as votações fiscais ficarão para 2021.
Apesar do superávit mostrado hoje nas contas do setor público, de R$ 2,953 bilhões em outubro, segundo o Banco Central, a cautela com fiscal permanece. Foi o primeiro número positivo desde o início da pandemia, mas o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, nota que a relação da dívida bruta com o Produto Interno Bruto (PIB) já superou o nível recorde de 90%, e está em trajetória insustentável. Assim, "inquestionavelmente", o principal desafio de política econômica no Brasil, tanto para o Planalto como para o Legislativo, permanece resolver a situação fiscal.
Em novembro, a busca por ativos de risco também ajudou a retirar pressão do câmbio no Brasil. A B3 recebeu R$ 31,5 bilhões de estrangeiros até o dia 26, um recorde.
O analista sênior de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, destaca que o dólar testou hoje no mercado internacional os menores níveis em dois anos e meio e vai fechar novembro acumulando a maior queda mensal desde julho. Para ele, este sentimento dos investidores em relação ao dólar reflete a visão de que o governo Biden não deve provocar entrave para um maior crescimento mundial, ao reduzir a tensão comercial dos EUA com o resto do mundo e ainda elevar gastos públicos. Além disso, o Fed deve manter seus estímulos extraordinários, o que inunda o mercado todo dia de liquidez em dólar.
Por Altamiro Silva Junior