A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada na manhã desta terça-feira (15), indicou que a projeção para o IPCA de 2020 no cenário que utiliza juro fixo e câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) está em 4,3%. Este cenário pressupõe Selic a 2,00% ao ano e câmbio partindo de R$ 5,25. Já a projeção para 2021 está em 3,5% e o cálculo para 2022 está em 4,0%.

As estimativas já constaram no comunicado da semana passada, quando o Copom manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 2,00% ao ano. Foi a terceira vez, após nove reuniões consecutivas, em que o BC não reduziu os juros.

Para o cálculo das projeções, o BC utilizou taxa de câmbio partindo de R$ 5,25, que é a média da taxa de câmbio observada nos cinco dias úteis encerrados no dia 4 de dezembro.

Em setembro, durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o BC já havia anunciado que pretendia dar preferência ao câmbio PPC em suas projeções, e não mais ao câmbio fixo ou baseado no Focus.

"A hipótese de trajetória de taxa de câmbio constante tem como qualidades a simplicidade e a consonância com evidências que apontam para as dificuldades em se prever a taxa de câmbio", explicou o BC na ocasião. "Entretanto, essa hipótese não considera os potenciais efeitos do diferencial entre as inflações doméstica e externa sobre o câmbio. Na literatura econômica, a relação entre câmbio e diferencial de inflação é usualmente considerada por meio da teoria da paridade do poder de compra (PPC). Na sua versão em diferenças, a variação da taxa de câmbio deve ser dada pela diferença entre as inflações doméstica e externa."

De acordo com o BC, como a inflação no Brasil é superior à externa, a adoção da hipótese de câmbio conforme a PPC "evitaria a utilização de trajetória de apreciação real do câmbio, apreciação essa que eventualmente levaria a uma subestimação das projeções de inflação".

Na ata da reunião anterior, de 27 e 28 de outubro, as projeções no cenário com juro fixo e câmbio PPC eram de 3,1% para 2020, 3,2% para 2021 e 3,8% para 2022.

Alimentos

O Banco Central avaliou por meio da ata do Copom que a alta dos preços dos alimentos deve perder força em dezembro. Ainda assim, a instituição projeta inflação elevada para o mês. Entre os motivos para isso estão as pressões trazidas pelas mensalidades escolares e pelos preços de energia.

"As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços de alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica", registrou o BC na ata.

No mercado financeiro, após o IPCA - o índice oficial de inflação - registrar alta de 0,89% em novembro, a projeção mediana é de elevação de 1,19% em dezembro, conforme o Relatório de Mercado Focus.

"Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente", afirmou o BC por meio da ata. A instituição avaliou ainda que diversas medidas de inflação subjacente estão compatíveis com o cumprimento da meta de inflação no Brasil.

Preços administrados

O Banco Central projeta uma elevação de 2,3% nos preços administrados em 2020, considerando seu cenário básico, com juros variáveis e câmbio conforme a Paridade do Poder de Compra. Este cenário pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,25 e evoluindo pela PPC. No caso de 2021, o porcentual é de 5,7% e, para 2022, de 3,6%. As projeções anteriores eram de 0,8% em 2020, 5,1% em 2021 e 3,9% em 2022.

No cenário de juro fixo a 2,00% ao ano e câmbio PPC, a projeção para a alta dos preços administrados em 2020 também é de 2,3%. No caso de 2021, está em 5,7%, para 2022, em 3,7%. Os porcentuais anteriores eram de 0,8%, 5,1% e 4,0%, respectivamente.

As projeções para os preços administrados ajudaram a formar a base para que o colegiado mantivesse na semana passada a Selic (a taxa básica de juros) em 2,00% ao ano.

Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues

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